Clima quente no vestiário do Flamengo após a vitória por 2 a 1 sobre o Atlético-MG, neste sábado, pelo Brasileirão. Pedro, que não foi utilizado por Jorge Sampaoli no Independência, recebeu um soco no rosto do preparador físico Pablo Fernández.
O argentino questionou o atacante por ter sentado no banco após as entradas de Luiz Araújo e Everton Cebolinha, não gostou de ser retrucado e agrediu o camisa 9 rubro-negro.
Após as entradas dos dois atacantes, Sampaoli ainda teria mais uma substituição, que foi utilizada com a entrada de Thiago Maia na vaga de Filipe Luís. Pablo Fernández não gostou de ver Pedro sentado no banco de reservas e fez cobranças ríspidas ao jogador assim que entrou no vestiário.
O argentino disse que o fato de Pedro não permanecer na área de aquecimento foi uma falta de respeito. O camisa 9 retrucou que quem não tem respeito por ele é a comissão técnica de Sampaoli, alegando que o tratamento recebido não é correto e que está sendo minado desde o início do trabalho. Fernández respondeu desferindo um soco na boca do atleta, que apresenta ferimentos no local.
Pronunciamento de Pedro após a agressão
Poderia estar aqui falando dos escassos minutos recebidos nos últimos jogos, mas o que aconteceu hoje foi mais grave do que pode acontecer dentro das quatro linhas. Covardemente, sem motivo e inexplicavelmente, fui agredido, com um soco no rosto, por Pablo Fernandez, membro da comissão técnica do Sampaoli.
A covardia física se sobrepôs diante da covardia psicológica que tenho sofrido nas últimas semanas. Alguém que se acha no direito de agredir o outro não merece respeito de ninguém. Já passei por muitas provações aqui no Flamengo, mas nada se compara com a covardia sofrida hoje.
Que Deus perdoe uma pessoa que, em pleno 2023, acha que uma agressão física possa resolver qualquer problema. Obrigado JESUS pelo ensinamento, dando a outra face.
Vidal e Marinho, jogadores que saíram do Flamengo recentemente e chegaram a ser treinados pela comissão técnica de Sampaoli, se manifestaram em solidariedade ao atacante.
Pronunciamento de Jorge Sampaoli
“Não acredito na violência como solução. Isso não nos leva a lugar nenhum. Nem na vida, nem no futebol. Ao longo da minha carreira, vi tantas lutas e elas sempre me deixaram com uma sensação de vazio. O que aconteceu ontem me deixou muito triste. Ofuscamos uma vitória impressionante com uma disputa interna cujas razões existem, mas neste momento não importam.
A história me mostrou que a única solução é a conversa. Mesmo quando errei ou vi o erro dos outros. Eu tenho fé na palavra. Que é uma forma de ter fé no ser humano. Porque a violência nos separa e a conversa nos une.
Quando eu era criança e comecei a jogar futebol, as brigas dentro e fora do campo eram muito comuns. Assim como muitas coisas no mundo mudaram para pior, algumas mudaram para melhor. A violência é menos aceita a cada dia como forma de resolver as coisas. É uma transformação que levará tempo. Não será de um dia para o outro. Todos nós temos o direito de cometer erros. Porque temos a possibilidade de nos transformarmos. Para ser melhor.
Eu sou o condutor desta equipe. Me dói muito quando dois colegas de trabalho brigam. Mais do que a violência. Os treinadores não se dedicam apenas à tática e à preparação dos futebolistas. Acima de tudo, trabalhamos para gerir grupos. Tentamos melhorar e cuidar das pessoas.
Não tenho dormido pensando em como ajudar Pedro e Pablo. Sei que vocês dois tiveram uma noite horrível. E que, aconteça o que acontecer, temos a obrigação de nos cuidar. Para nos mudar Para unir. Para ser melhor. E colocar o Flamengo no topo”.
Pronunciamento de Pablo Fernández
“Eu poderia começar essas palavras de mil maneiras, mas a única que realmente faz sentido é pedir desculpas. Ao Pedro, aos colegas, aos trabalhadores e ao Flamengo.
Entrei no vestiário muito chateado, querendo resolver logo a situação e fiz errado. Foi planejado que hoje seria um dia de folga. É uma pena, porque eu gostaria de poder, primeiro, falar sobre isso pessoalmente com todos os funcionários do clube. Senti-me muito magoado com uma situação e reagi da pior forma.
Estive pensando sobre o que aconteceu por horas e gostaria de poder voltar no tempo. Mas não se pode. O que existe é o presente e o futuro. Isso é pedir perdão e tentar novamente. Todas as vezes que for necessário. Lamento e gostaria de corrigir.
A alta competição geralmente tem coisas que nos fazem mal. Situações de alto estresse que nos fazem reagir e pensar mal. Não pretendo situar esse contexto como uma desculpa, mas como uma explicação.
Definitivamente, se eu tivesse divergências com o Pedro deveria tê-las resolvido em outro momento e de outra forma. Vou tentar fazer isso acontecer. Vou trabalhar para mudar e ser melhor.”
Registro do B.O
Inicialmente, por volta das 1h10, Pedro se dirigiu ao Batalhão da Rotam (Rondas Táticas Metropolitanas da Polícia Militar) em uma van com seguranças do Flamengo. Foi possível observar que ele estava acompanhado ainda por Marcos Braz, vice de futebol do Flamengo, e um advogado. Pablo Fernández – em um outro veículo – também foi ao local dar a sua versão do caso. A Rotam é quem faz a segurança no estádio e, por isso, assumiu o registro da ocorrência.
Posteriormente, pouco depois das 2h, os envolvidos foram à Central de Flagrantes da Polícia Civil, em outro local, para complementar o registro. Pedro e Pablo foram ouvidos por um delegado, que ainda colheu o depoimento de quatro testemunhas: o zagueiro Pablo, o atacante Everton Cebolinha, o volante Thiago Maia e o coordenador Gabriel Andreata. Braz não esteve neste momento. O diretor executivo Bruno Spindel, sim.
– Após o jogo, o atleta Pedro sofreu um golpe na face após uma breve discussão com o preparador físico. Ele questionou Pedro por não ter aquecido no segundo tempo. Pedro não gostou de ter sido interpelado, disse que não queria fazer o aquecimento e recebeu tapinhas no rosto do preparador. Pedro não gostou e tirou as mãos. Então, o preparador deu um passo para trás e desferiu um soco na face do jogador. Fizemos as oitivas, procedemos o Termo Circunstanciado e vamos encaminhá-lo ao Ministério Público. O jogador, portanto, representou o caso – explicou o delegado Marcos Pimenta, para completar:
– Todas as testemunhas afirmaram que Pedro levou um soco na boca após a discussão. A princípio, foi um caso leve. Não há mandado de prisão contra Pablo Fernández. A pena, neste tipo de delito, é de multa. Não há necessidade de prisão. Por isso, o preparador foi liberado e não houve prisão em flagrante.
A delegação do Flamengo ficou no Independência aguardando o desdobramento do caso. Como o registro demorou, o grupo voltaria ao Rio em voo fretado às 3h. Sem Pedro, Pablo Fernández, as testemunhas e alguns seguranças.
Pedro concluiu o registro da ocorrência às 3h30. Ele deixou o local ao lado do advogado e de Bruno Spindel para se dirigir ao Instituto Medico Legal, onde faria exame de corpo de delito. Ele sofreu um corte na boca.
Laudo IML
Laudo do Instituto Médico Legal da Polícia Civil de Minas Gerais mostra o ferimento na boca de Pedro. O atacante levou um soco do preparador físico Pablo Fernández, no vestiário, depois da vitória do Flamengo por 2 a 1 em cima do Atlético-MG.
O laudo do IML também aponta para lesões sofridas pelo jogador no rosto. Na imagem abaixo é possível observar que ele tem um ferimento na parte interna da boca.
Reunião
A agressão de Pablo Fernández a Pedro após a vitória sobre o Atlético-MG deixa por um fio a sequência de Jorge Sampaoli no comando da equipe e uma reunião no domingo discutirá alternativas que sejam consensuais. Já se sabe que o preparador físico não permanecerá no clube, até mesmo pela postura firme do elenco diante do ocorrido.
A velocidade com que os episódios aconteceram após o apito final no estádio Independência fez com que a diretoria rubro-negra adotasse uma postura conservadora para evitar uma tomada de decisão radical que gerasse impacto, principalmente, na receita do clube. O início do domingo será de análises minuciosas de questões jurídicas para saber da possibilidade de demissão por justa causa e cláusulas contratuais.
A realidade, por sua vez, indica que o emprego de Jorge Sampaoli está em risco, e o Flamengo deixará o treinador à vontade para se comportar a respeito do ocorrido. Ciente de que a situação ficou insustentável para seu preparador físico e companheiro de longa data, caberá ao argentino o posicionamento inicial se deseja continuar sem Pablo Fernández ou se vai se solidarizar com a demissão iminente.